Por trabalhar na Justiça Eleitoral, evito citar nomes de políticos e/ou partidos políticos brasileiros (embora eu pudesse fazê-lo sem problema algum, pois sou um cidadão como outro qualquer: o Código de Ética do TRE/RJ não tem vedação nesse sentido, porque o fato de ser servidor público não retira minha liberdade de expressão).

quinta-feira, 2 de maio de 2013

O mal do esperto é pensar que todo mundo é otário

No mês passado terminou o prazo para quem havia faltado a três eleições consecutivas regularizar sua situação junto à Justiça Eleitoral (detalhes aqui). Veja na foto ao lado como ficou a fila no dia 24 de abril em Campos, em reprodução de imagem da InterTV.

Tendo em vista esse fato, no dia final (25/04) tomei a iniciativa de ir trabalhar uma hora mais cedo, para orientar as pessoas e tentar evitar problemas na fila, por causa do movimento muito acima do normal: com muita gente no mesmo lugar, em pé, no sol (isso é inevitável, dada a posição do prédio e o horário de abertura, às 11;00 h), no calor e com a fila dobrando o quarteirão os ânimos podem se exaltar e ninguém quer notícias ruins. Não sou "bonzinho": é melhor ir mais cedo e dar atenção às pessoas do que ficar esperando algum problema acontecer...

Ao chegar para organizar a fila, a primeira pergunta que ouvi foi se havia "prioridade", ao que respondi que sim, por se tratar de órgão público. Assim, dirigi-me às pessoas e falei que quem tivesse mais de sessenta anos poderia passar a frente dos demais, desde que apresentasse a identidade comprovando ter tal idadePara minha surpresa algumas pessoas desistiram de usar a "prioridade". Poucos se apresentaram para tanto e muitos dos que inicialmente tinham se animado simplesmente deixaram a ideia de lado...

Depois uma senhora que aparentava uns 50 anos me perguntou se havia prioridade para grávidas, ao que evidentemente respondi que sim, perguntando onde estava a grávida. Ela, forçando a barriga para a frente, disse que era ela própria, que a olhos vistos não estava grávida, o que ficou ainda mais perceptível quando vi o olhar de surpresa das pessoas ao redor. Perguntei se ela tinha um atestado médico ou outra coisa que  comprovasse a gravidez: ela, sem graça, ao menos me respondeu e afastou-se fingindo não ter entendido o que perguntei...

Numa outra situação uma moça acompanhada de uma criança que aparentava uns cinco anos de idade pediu prioridade por estar com a criança no colo. Respondi que por lei a prioridade era para crianças "de colo" e não "no colo" e que ela teria que aguardar sua vez na fila e ela também não questionou.

Talvez todos esses episódios demonstrem que muitas pessoas estão acostumadas a fingir que têm mais de sessenta anos, ou que estão grávidas ou a colocar seus "bebês" de cinco anos no colo, sempre visando conseguir benefício que sabem não ter direito. Tanto não tinham direito que ao menos defenderam suas posições.

Em bancos já cansei de ver tais armações, pois os funcionários têm medo de pedir aos clientes a identidade, sob o argumento de que "a pessoa pode processar" o banco. Já questionei situações que geravam dúvida e sempre ouvi essa mesma resposta. Hoje em dia não falo mais nada, porque não quero ser tachado de "idosofóbico", "criança-no-colofóbico" nem de "gravidofóbico" (só questionei quando a pessoa não aparentava - e muitas vezes não tinha - mais de 60 anos ou estar grávida). Rsrsrsrs... 

Claro, há casos em que é evidente a idade da pessoa, a gravidez ou que se trata de um bebê que precisa ficar no colo. Tudo é uma questão de bom senso, de parte a parte: processar não é ganhar! Se a pessoa for tratada com educação e seriedade, quero ver se consegue provar honestamente ter sido ofendida...

Se o motivo da diferença em favor de determinadas pessoas é justamente a idade, nada mais óbvio do que pedir a identidade para comprovar o que se alega. Se a mulher engravidou ontem e ainda apresenta aquela barriguinha negativa estilo Nicole Bahls não dá para reclamar se alguém duvidar que ela está grávida (cá entre nós: o caro leitor já viu alguma grávida normal que não ande com um monte de receitas e exames médicos na bolsa?). Se a criança já é grande e não precisa de colo não há razão para qualquer tratamento diferenciado. Em todos esses casos é preciso lembrar que a vontade da lei não é fazer que as pessoas seja passadas para trás e aceitem isso passivamente, pelo simples fato de que a lei não estabelece iniquidades.

Tenho certeza de que tratei a todos com igualdade e sem privilégios. Ninguém questionou o que falei. Ninguém disse que iria me processar... Por que será? Porque assim como "o mal do esperto é pensar que todo mundo é otário", é certo que "quando a esperteza é grande demais, vira bicho e engole o esperto".

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