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Bumba-meu-boi |
Ao deixar a decisão sobre o que fazer na pandemia nas mãos de 27 governadores e 5.570 prefeitos, o STF não garantiu o combate ao coronavírus: institui o caos jurídico, por ter tirado do governo federal a possibilidade de enfrentar nacionalmente uma questão mundial. Na verdade, para não substituir a vontade do Executivo, o Judiciário liberou os Executivos estaduais e municipais para substituírem. Logicamente, virou um bumba-meu-boi sem capitão, como diria Alceu Valença.
Conforme a cidade ou estado é possível se ver barricada, barreira sanitária*, estradas fechadas, prisão por não usar máscara, por abrir comércio, por sentar no banco da praça ou não impedir que alguém entre num estabelecimento sem máscara (essa é a melhor de todas) ou por caminhar na praia... condenados ganham liberdade... agentes públicos entram nas casas sem autorização... hospitais de campanha são superfaturados com o argumento "calamidade pública"... há até quem pretenda organizar "cadastro das pessoas que são contra a quarentena", para que os médicos não as atendam em caso de doença... Em suma: é uma festa, uma verdadeira pirotecnia jurídica!
A única coisa comum a todos os cantos do país é: quarentena só para quem produz! Comércio, setor de serviços, eventos, indústrias, repartições públicas... nada pode funcionar para "evitar aglomerações", mas a depender do lugar, supermercados, farmácias, oficinas, lojas de água, ração, material de construção e óticas funcionam: lá não tem vírus. Como também não tem nos bailes, filas para receber comida, feiras livres...
O raciocínio é mais ou menos assim: razoabilidade? Economia? Meio termo??? Bom senso? Não me venham com essas baboseiras! Constituição??? Leis??? Para quê, se temos os decretos??? Dá uma canetada e resolve tudo: sempre citando que foi o STF quem autorizou, todo mundo quer aparecer com as belas frases "saúde em primeiro lugar" e "temos que cuidar das pessoas", mas na hora que a onda da recessão atropelar todos, não serão Municípios nem Estados que resolverão os problemas causados por eles mesmos ao adotarem a quarentena horizontal e não a vertical: todos correrão a pedir dinheiro à União!
Na hora de baixar decreto proibindo uso de máscaras, proibindo moradores de outras cidades de entrar e mandando prender quem estiver na rua os municípios o fazem a jato! Deveria, no mínimo, ser lei, porque os Legislativos estão funcionando. Mas quando é para liberar o funcionamento do comércio, dizem não poder porque "tem que esperar determinação do Estado"; outros querem liberar exatamente para passar por cima do Estado... Eis a ingovernabilidade gerada pela decisão do STF, que eu acusei logo no primeiro momento: o governo federal fica de pés e mãos atados no controle do país! Só lhe é dada a opção de aderir ao discurso da OMS...
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Caixa em Campos, 28/04/2020 |
Por outro lado, as pessoas estão desesperadas pelo auxílio emergencial, pois quem tem emprego não pode trabalhar; quem tinha está perdendo e quem não tinha está passando fome. É por isso que as pessoas se aglomeram nas portas dos bancos: é impossível dizer "fique em casa" para quem nada tem para comer na geladeira! E, como ninguém ousa tentar impedir as pessoas de retirar o dinheiro, na prática é assim: aglomerar para trabalhar não pode; aglomerar para sacar R$ 600,00 pode e ninguém é doido de tentar atrapalhar.
Sugestão: prendam logo todo mundo!!! Que belo exemplo daremos!!! Já que os bandidos estão soltos, quanto mais pessoas de bem presas, maior o isolamento!!! Daremos ao mundo uma lição de combate ao vírus - mas tiraremos nota zero em democracia..
*Na verdade o objetivo é proibir o direito de ir e vir, porque exige comprovante de residência, o que nada tem a ver com o vírus.
"Como um bumba-meu-boi sem capitão" é um dos versos de
Concordo 102%.
ResponderExcluirPode soar estranho, mas é mais fácil combater o Covid do que combater a fome. Ou até mesmo o medo!
Não precisamos ser nenhum gênio para entender: se não produzimos, muitos passarão(e passam) fome.
Cadê o direito de ir e vir?
Não é recomendável aglomerar, OK, mas o povo que está passando necessidade vai pra porta da Caixa Econômica desesperado formar o que? Isso mesmo: aglomeração.
Filipe Barreto.