Por trabalhar na Justiça Eleitoral, evito citar nomes de políticos e/ou partidos políticos brasileiros (embora eu pudesse fazê-lo sem problema algum, pois sou um cidadão como outro qualquer: o Código de Ética do TRE/RJ não tem vedação nesse sentido, porque o fato de ser servidor público não retira minha liberdade de expressão).

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O "não-caso Zezé Polessa": o Direito não se presta a palhaçadas

Há alguma semanas um motorista profissional sofreu um infarto e morreu, no Rio de Janeiro. O senhor já havia saído de casa passando mal e chegou a comentar isso com familiares. Por uma fatalidade, durante seu trabalho o motorista, que era cardíaco, discutiu com a atriz Zezé Polessa, da Globo, e depois veio o infarto. 

Os "tolerantes intolerantes", claro, colocaram em ação a "Santa Inquisição Virtual" a que me referi ontem aqui e rapidamente cuidaram de triturar a reputação da atriz que comete os "crimes" de ser famosa, branca e trabalhar na Rede Globo, a mais odiada entre as emissoras brasileiras (leia).

Autoridades disseram que iriam invocar o Estatuto do Idoso; a imprensa divulgou o fato como se fosse mesmo verossímil o tal "homicídio culposo" (precisa ser especialista para ver que não havia homicídio algum???) Zezé foi chamada de bruxa, preconceituosa, metida, criminosa e que "essa morte ela vai levar na consciência", tudo que ninguém gosta de ouvir sobre si próprio. Houve até quem dissesse que ela seria a co-autora, tendo a doença dele como autora (é tão absurdo que chega a ser folclórico)...

Em 17 de janeiro deste ano, enquanto o mundo caía sobre a cabeça da moça, postei no Facebook:

"Ela será a linchada da vez: ela se aborrece com o motorista, que é cardiopata, ele infelizmente morre e ela responde por homicídio????
Em que mundo estamos? Alguns agem assim: 'ela é rica e famosa e ele era pobre; logo, a culpa é dela'. Revanchistas.
De alguns anos para cá tornou-se inacreditável a busca de culpados para as fatalidades da vida, principalmente se esse "bode expiatório" for uma pessoa rica e famosa e do outro lado houver uma "vítima" pobre: sempre que possível, colocarão a culpa no famoso, como que numa revanche histérica da sociedade outrora humilhada contra a classe poderosa.
Estão tentando transformar o Brasil num país de pobres X ricos, brancos X negros, homens X mulheres, bons X maus. Não contem comigo:"

Veja que interessante a decisão do Juiz do caso, Marco José Mattos Couto, que mandou arquivar o inquérito porque os depoimentos não traziam "qualquer informação capaz de vincular a investigada às práticas criminais inicialmente cogitadas. Não há nada – absolutamente nada -  nos autos que possa incriminar a investigada Maria de castro Polessa. Tanto certo que se percebe que houve evidente exagero investigatório. Portanto, insistir nesses autos representaria expor ainda mais a atriz ao constrangimento policial, sem que haja qualquer fundamento técnico para tanto. Por isso, a única solução verdadeiramente justa que se apresenta é o arquivamento dos autos[grifei].

Quem iniciou esse procedimento não tem o menor senso de Justiça, queria muito aparecer, ou é muito "politicamente correto" (ou as três opções juntas). Eu gostaria que a imprensa que deu vez a tamanho absurdo - que se alastrou pelas redes sociais - tivesse dado ao arquivamento o mesmo noticiário dado à "investigação", mas infelizmente não tenho mais esperado que coisas razoáveis aconteçam no Brasil de hoje.

Que nossa sociedade tome esse episódio como lição e acabe com as palhaçadas jurídicas e linchamentos virtuais que tomaram conta do país nos últimos anos.
Fonte: G1

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