Por trabalhar na Justiça Eleitoral, evito citar nomes de políticos e/ou partidos políticos brasileiros (embora eu pudesse fazê-lo sem problema algum, pois sou um cidadão como outro qualquer: o Código de Ética do TRE/RJ não tem vedação nesse sentido, porque o fato de ser servidor público não retira minha liberdade de expressão).

sábado, 22 de agosto de 2015

O humor em tempos de cólera: ainda há juízes em Berlim (que é bem longe de Brasília)

Em tempos de censura posta em prática pela patrulha politicamente correta, um humorista faz uma piada no Twitter sobre uma suposta bomba (tudo mentira, cascata brava para se fazer de vítima!) supostamente lançada num suposto instituto supostamente acima de qualquer suspeita.

Mesmo sabendo-se que se tratava claramente de uma piada e que isso poderia ser constatado por qualquer criança de 10 anos, o suposto instituto finge-se de ofendido e interpela judicialmente o humorista, buscando calar-lhe a voz. 

Mas aqueles que - por odiarem a democracia e a liberdade de expressão - pretendiam censurar as opiniões divergentes, levaram um estouro (não suposto: verdadeiro... rsrsrs) do Juiz Carlos Eduardo Lora Franco, da 3ª Vara Criminal de SP:

Não é possível criminalizar-se, ou censurar-se, a piadaSó isso já basta, e na verdade impõe, a rejeição liminar do presente pedido de explicações pela evidente ilegitimidade ativa.

Nem se faz necessário, então, mencionar que é notório que o interpelado é um comediante, e assim mais que óbvio que aquela frase nada mais é do que uma evidente piada. 
Fosse tal afirmação na rede social de um jornalista respeitado e de credibilidade, tais como William Waack, ou Miriam Leitão, por exemplo, sem dúvida alguma se poderia cogitar de algum crime contra a honra. Mas no Twitter de um comediante, como notoriamente é o requerido, ninguém, obviamente, iria levar tal informação a sério imaginando que ele tem informantes e está fazendo uma revelação importante.

Nem se faz necessário, também, mencionar que, por outro lado, num país com histórico de tantos “aloprados” de direita e esquerda forjando fatos para prejudicar grupos opostos, no qual inclusive já houve um caso de ataque a bomba feito por um grupo para incriminar outro (caso Rio Centro), trazer à tona tal possibilidade e discussão é algo até saudável historicamente.

Nem se faz necessário, mais, observar que o Brasil vive um momento de patrulhamento sem precedentes, e que o Poder Judiciário deve estar atento a não se transformar, especialmente através de ações penais privadas, em forma de pressão e intimidação de poderosos contra quem deles diverge ou os incomoda”.

A história completa é contada pelo jornalista Augusto Nunes aqui.


O título da postagem é inspirado no título do livro"O Amor nos Tempos do Cólera", de Gabriel García Márquez (1985) 

e no conto "O Moleiro de Sans-Sousci", de François Andriex (séc. XVIII).

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Se cobrir vira circo; se cercar, vira cadeia; se bobear, vira pizzaria.

Há no planeta Terra um país mais pitoresco do que qualquer outro: mesmo tendo todos os motivos do mundo para ter vergonha dele, seus filhos dizem "não desisto nunca, com muito orgulho, com muito amor".

Nesse país muito longe daqui, o cumprimento da Constituição e das leis é tido como "golpe" e quem aplica golpes para enriquecer e se furtar ao cumprimento das leis e da Constituição é tido como mártir. E assim, aceita-se passivamente que a democracia seja usada para... instalar uma ditadura eleita!

O slogan desse país? "Se cobrir vira circo; se cercar, vira cadeia; se ninguém fizer nada, vira pizzaria".

O título da postagem foi tirado do refrão da música Trapézio, gravada pelo incrível Benito Di Paula em 1978.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O tempo passou na janela e só Robin Hood não viu


Economicamente o país atravessa o caos (com tendência de piora e avaliação cada vez mais negativa no cenário internacional); vive-se uma crise política e ética; a inflação bate à nossa porta; o desemprego bate recordes; o dólar atinge níveis alarmantes; nossa maior empresa foi tomada de assalto e beira a falência; a diplomacia ideológica transformou o Brasil num "anão diplomático"; autoridades da República têm que se esconder do povo... a lista de infortúnios seria interminável!

Em razão disso a população deixou para trás o populismo barato baseado em mentiras disseminadas pela propaganda oficial e não aceita mais a corruptocracia como forma de governo, nem a vitimização como forma de regular a vida em sociedade. A esses bons cidadãos Augusto Nunes referiu-se como "71% de brasileiros exaustos de ladroagem e incompetência."

Mesmo assim a observação que certas pessoas e instituições fazem do atual momento do país deixa claro que elas parecem viver num mundo paralelo: agem como se roubar dinheiro público fosse algo aceitável caso feito por quem se intitule "pai dos pobres" (???) e acusam toda opinião divergente de ser "crime de ódio", "intolerância", "preconceito" ou coisa que o valha. Como sempre, acusam os demais de praticarem os crimes por eles praticados. Coisa de cafajestes, claro, assim definidos por Marcelo Madureira:

"O cafajeste é dissimulado. É capaz de chorar lágrimas de crocodilo, mente compulsivamente e sempre tem desculpas para tudo. O cafajeste nada de braçada na sua ambiguidade, não obedece a nenhum código de ética".

O fato é que - como bem disse Nelson Motta - "o sonho acabou (...), não por uma conspiração da CIA ou da imprensa golpista, mas (...) pela ganância e incompetência que nos levaram ao lodaçal onde chafurdamos."

Mas o Robin Hood (e seus ainda seguidores) finge que não viu nada e repete um mantra: "Não há provas". Às vésperas da renúncia, Nixon também dizia a mesma coisa. Mas o tempo já havia passado e Nixon fez o certo: renunciou...

O título da postagem é baseado num verso da canção "Carolina", 
composta por Chico Buarque em 1967.